Princípios

A abordagem complexa dos saberes locais, isto é, das compreensões e práticas distintas sobre o mundo natural , emerge do contexto de crise paradigmática da ciência moderna e da necessidade de abertura ao diálogo com outros saberes. Incluímos nessa categoria o patrimônio material e imaterial de coletividades que, desde seus territórios, buscam resistir e reafirmar suas identidades frente à modernização e racionalização de suas realidades . Parte-se, portanto, da necessidade de abertura ao diálogo com outros saberes; a abordagem complexa, nesses termos, deve possibilitar a compreensão do saberes locais sobre o mundo natural apoiando-se em na união de métodos e técnicas oriundos de outros ramos científicos (da psicologia, da antropologia, da sociologia, da linguística, da ecologia, da geografia, etc.) de forma a permitir a interpretação das narrativas (da ciência e dos sabres locais) acerca da subjetividades dos fenômenos espacial (o território da comunidade) e temporal (o tempo social e biológico) que configuram a sociobiodiversidade de territórios tradicionais e alternativos.

terça-feira, 10 de julho de 2018

GP INTERCONEXÔES PARTICIPA DE EVENTO ACADEMIC-COMUNITARIO DA REDE CASLA-CEPIAL

II° ENCONTRO ACADÊMICO-COMUNITÁRIO DA UNITINERANTE:
"SABERES GEOCOLÓGICOS TRADICIONAIS E DIVERSIDADE SOCIOTERRITORIAL"



Universidade Itinerante dos Direitos Humanos e da Natureza, pela Paz e pelo Bem Viver.


Regularmente ofertada, a Disciplina ¨Saberes Geoecológicos Tradicionais E Diversidade Socioterritorial¨, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Nicolas Floriani, do Programa de Pós-graduação em Geografia da UEPG, será realizada mais uma vez fora dos “muros¨ da Universidade.

Apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (UEPG) pelos Programas de Pós-Graduação em Geografia (UEPG) e Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR, Paranaguá) e outros professores e profissionais voluntários da Rede Casla-Cepial decidiu-se por realizar um período de vivência de uma semana em três comunidades tradicionais paranaenses, beneficiárias do projeto aprovado pelo CNPq (DAS TERRITORIALIDADES TRADICIONAIS ÀS TERRITORIALIZAÇÕES DA AGROECOLOGIAe onde serão trocadas experiências entre acadêmicos e habitantes do Faxinal.

A ideia vem ao encontro dos princípios da UNITINERANTE, projeto idealizado pela Casa Latino-americana (CASLA), que é dar voz aos atores  sociais historicamente inviabilizados pelas instituições formais (sistemas jurídicos, educacionais, democrático, etc), marcados pelo processo de modernização excludente, aproximando-se, com isso, das demandas reais das comunidades vulneráveis e em situação de conflitos socioterritoriais.

Oficina Participativa realizada no 1º Evento Acadêmico-comunitário da UNITINERANTE, em outubro de 2017, no Faxinal Sete Saltos, Paraná

A disciplina contará com a participação des professores, lideranças comunitárias e representantes do poder público e de ONG, buscando colocar em um mesmo patamar de discussão as diferentes narrativas de realidades sociais e territoriais.

O objetivo do evento acadêmico-comunitário é a formação-capacitação de profissionais, pós-graduandos e moradores das comunidades. A finalidade é a produção de material virtual para as comunidades, tal como um site ou blog.

A programação das atividades inclui Oficinas participativas, palestras e  práticas de campo nos referidos território rurais tradicionais, conforme exposto abaixo.





PROGRAMAÇÃO DETALHADA


Local: Faxinal Sete Saltos e Comunidade Quilombola Palmital dos Pretos, Ponta Grossa

A.1 - 

15h30 - Recepção dos Participantes pela Equipe e pelos Repres. Comunidades.
17h00 -Organização das turmas e explicação da metodologia das Oficinas

A.2 - 09h00 - Oficinas 1 e 3

A.3 - 14h00 - Oficinas 4 e 6

A.4 - 09h00 - Oficinas 7 e 8

A.5 - 
14h00 - SEMINÁRIOS Apresentação dos Resultados 
16h00 - AVALIAÇÃO dos Moradores envolvidos
17h00 - AVALIAÇÃO dos Professores Convidados
18h00 - Articulação dos EIXOS Acadêmico-Público-Comunitário


Local: UEPG, Campus Uvaranas, Ponta Grossa

A.6 -  09h00 - Abertura Evento

Prof.Dra. Marilisa do Rocio Oliveira (PROEX-UEPG) 
Prof. Dr. Marcio Ornat (Coord. PPGEO-UEPG)
Dra. Gladys de Souza Sanchez (CASLA)
Prof. Dr. Nicolas Floriani (PPGEO-UEPG)

09h30 - Mesa 1 - Saberes Geoecológicos Locais e Diversidade Socioterritorial: experiências acadêmicas nacionais
Prof. Dr. Adnilson Almeida Silva (UNIR)
Prof.Dr. Ancelmo Schorner (Unicentro, Irati)
Prof. Ms. Alexsande de Oliveira Franco (UFAc)
Profa.Ms. Marisangela Lins de Almeida (UFSC)  
Moderador: Prof. Dr. Dimas Floriani (MADE, UFPR/CASLA)

A.7 - 14h00 Mesa 2 - Saberes Geoecológicos Locais e Diversidade Socioterritorial: experiências acadêmicas nacionais
Profa. Dra. Cecília Hauresko (Unicentro, Guarapuava)
Profa. Dra. Irene Carniatto (Unioeste, Cândido Rondon)
Dra. Margit Hauer (IAP)
Prof. Dr. Daniel Cenci (Unijuí)
Moderador: Prof. Dr. Almir Nabozny (PPGEO, UEPG)




Local: Casa Latino-americana, Curitiba

A.8 - 09h00 - Abertura do Evento 

Cerimonial - Dra. Daniela Ynoue (CASLAJUR, Cerimonial)
Dra. Gladys Souza Sanchez (CASLA)
Profa. Dra. Marilisa do Rocio Oliveira (Proex, UEPG)
Prof. Dr. Nilceo Deitos (Fundação Araucária)
Prof. Dr. Francisco Mendonça (PROPESP, UFPR)
Prof. Dr. Antonio Peres Gediel (R.I, UFPR)
Profa. Arlete Dias Moraes (CASLA)

09h30 - Instalação da Feira de Saberes, Sabores e Sementes (FSSS)

09h30 - Mesa 3 - Jornada Direitos Humanos, Migrações, Violência e Sistema Carcerário: desafios para o Brasil e Argentina
Dr. Olympio Sotto Maior (MP, PR)
Dra. Cristiane Sbalqueiro Lopes (MPFT, PR)
Dra. Ivete Caribe (CASLA)
Dra. Nadia Floriani (CASLA)

A.9 - 09h00 - Mesa 3 - Jornada Direitos Humanos, Migrações, Violência e Sistema Carcerário: desafios para o Brasil e Argentina
Dra. Isabel Kugler Mendes (presidente Conselho Comarca de RMC)
Dra. Rita Vanessa Nuñez (Fiscalía Misiones, Argentina)
Profa. Dra. Joseli Maria Silva (UEPG)
Dra. Elizabete Suptil de Oliveira (Coordenadora do Cons da Comarca RMC)

A.10 - 09h00 - Reunião  dos pró-reitores, Secretário de Ciência e Tecnologia e F. A.
Profa. Dra. Marilisa Rocio Oliveira (PROEX, UEPG)
Prof. Dr. Dimas Floriani (UFPR/CASLA)
Prof. Dr. Decio Sperandio (SETI-PR)
Prof. Dr. Nilceo Deitos (Fundação Araucária)

A.11 - 14h - Mesa 4. Organizações Comunitárias: experiências de diálogo com poder público e academia
Ms. Taíza Lewitiski  (MASA, Benzedeiras)
Cacique Irineu Rodrigues - Pontal do Paraná
Faxinalense Acir Tulio - Marmeleiro de Baixo
Quilombola Arildo Portela - Palmital ds Pretos
Caiçara Conceição Vieira Ramos - Pontal do Paraná
Ms. Ronir Fátima Rodrigues  (Interconexões, UEPG)
Dr. Emerson Handa - CASLA
Moderador: Prof. Dr. Ezequiel Westphal (IFPR, Paranaguá)

A.12 . 9h00 - Mesa 4 - Agentes Públicos e Desenvolvimento Comunitário 
Dr. Saint Clair Honorato dos Santos (Ministério Público, PR)
Dra. Margarete Mattos )Ministério Público , PR)
Dra. Cristiane Sbalqueiro Lopes (Justiça do Trabalho, PR)
Dra. Margit Hauer  (IAP)
Moderador: Prof. Dr. Antonio Marcio Haliski (IFPR)

A.13. - 14h00 Mesa 6 - Saberes Geoecológicos Locais e Diversidade Socioterritorial: experiências acadêmicas nacionais
(Coordenação PPGMADE)
Prof. Dr. Adnilson Almeida Silva (UNIR)
Prof. Dr. Daniel Cenci (Unijuí)
Prof.Dr. Ancelmo Schorner (Unicentro, Irati)
Moderador: Prof. Dr. Dimas Floriani (MADE, UFPR/CASLA)
Profa. Dra. Cecília Hauresko (Unicentro, Guarapuava)
Profa. Dra. Irene Carniatto (Unioeste, Cândido Rondon)
Dra. Margit Hauer (IAP)
Prof. Dr. Nicolas Floriani (PPGEO-UEPG)
Moderadores:
Profa. Dra. Naína Pierri  (MADE, UFPR)
Prof. Dr. Dimas Floriani (MADE, UFPR)



Local: Comunidade Caiçara do Guaraguaçu, Ponta do Paraná


A.14 - 
15h30 - Recepção dos Participantes pela Equipe e pelos Repres. Comunidades.
17h00 -Organização das turmas e explicação da metodologia das Oficinas

A.15 - 09h00 - Oficinas 3 e 5

A.16 - 14h00 - Oficinas 6 e 9

A.17 - 
09h00 - Visita á aldeia Guarani
11h00 - Visita ao Sambaqui

14:00 - Visitas guiadas à Comunidade Caiçara




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PROGRAMA DAS OFICINAS PARTICIPATIVAS A SEREM REALIZADAS NAS COMUNIDADES: Organização, Objetivos e Produtos Finais


Coordenação:
Prof.Dr. Antonio Marcio Haliski (IFPR, Paranaguá)
Profa. Dra. Tanize Tomasi (UEPG)
Prof. Dr. João Dremiski (IFPR, Itari)
Dra. Margit Hauer (IAP)
Dr. Charles Almeida (Emater, Paranaguá)
Ms. Ronir de Fatima Rodrigues (Interconexões, UEPG)
Ms. Renato Pereira (PPGEO, UEPG)
Ms. Cleusi Stadler Bobatto (PPGEO, UEPG)
Ms. Sandra Engelman (IFPR, Campo Largo)
Ms. Vanderlei Marinheski (PPGEO, UEPG)
Blenda Olinek (Biologia, UEPG)



OFICINA 1 CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA DA QUALIDADE DOS PROCESSOS PRODUTIVOS  Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (Identificar aspectos legais, obstáculos e potencialidades para as duas comunidades de Palmital) e produzir cartilha on line. Atividades: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos. 


OFICINA  2 CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA DA QUALIDADE DOS PROCESSOS PRODUTIVOS Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (Identificar aspectos legais, obstáculos e potencialidades para as duas comunidades de Sete Saltos) e produzir cartilha on line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos


OFICINA 3 CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA DA QUALIDADE DOS PROCESSOS PRODUTIVOS Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Pariricipativa (Identificar aspectos legais, obstáculos e potencialidades para as duas comunidades de Guaraguaçu) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos


OFICINA 4 ETNOPEDOLOGIA E MANEJO FETILIDADE DOS SOLOS 
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar mapa vernacular de solos, identificar atributos em campo Sete Saltos) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos


OFICINA 5 ETNOPEDOLOGIA E MANEJO FETILIDADE DOS SOLOS  
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar mapa vernacular de solos, identificar atributos em campo no Palmital) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos.


OFICINA 6 ETNOPEDOLOGIA E MANEJO FETILIDADE DOS SOLOS 
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar mapa vernacular de solos, identificar atributos em campo no Guaraguaçu) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos.


OFICINA 7 AGROBIODIVERSIDADE E SAF 1
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar mapa vernacular de solos, identificar atributos em campo nas duas comunidades de Sete Saltos) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos.


OFICINA 8 AGROBIODIVERSIDADE E SAF 2 
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar mapa vernacular de solos, identificar atributos em campo nas duas comunidades de Palmital) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos

OFICINA 9 AGROBIODIVERSIDADE E SAF 3 
Objetivos:  produzir um artigo e organizar e realizar a  Oficina Participativa (realizar inventario da Agrobiodiversidad e práticas agroelimentres, identificar atributos em campo na comunidade de Guaraguaçu) e produzir cartilha on Line. Atividade: levar alunos de pós e os moradores das comunidades para campo e envolve-los nos objetivos





INSCRIÇÕES


As inscrições serão limitadas e realizadas unicamente pelo email: casla@casla.com.br , contendo no assunto da mensagem "Inscrição Evento Agosto 2018". 

As inscrições devem ser realizadas até a data de 10 de agosto de 2018, e serão respeitadas a ordem das mesmas, após confirmadas pela Secretaria da CASLA (Lilian da Silva ou Jokasta Leiva).

Serão reservadas 20 vagas para cada Programa de Pós-graduação assinalado a seguir  PPG em Geografia (UEPG), PPG em MADE (UFPR) e PPG em CTS (IFPR). Para estes programas, as inscrições deverão ser realizadas nas respectivas secretarias acadêmicas dos cursos de Pós-graduação.


Maiores detalhes sobre o evento, solicita-se entrar em contato pelo telefone (41) 3013 7570.



APOIO


quinta-feira, 5 de julho de 2018

DOUTORANDO DO INTECONEXÕES DEFENDE TESE SOBRE TERRITORIALIDADE PARINTINTIN

No dia 28 de junho de 2018, Juliano Strachulski, integrante do Grupo de Pesquisa Interconexões, defendeu sua tese de doutorado em Geografia  pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da UEPG, conceito 5 da CAPES.





Intitulada "KAGWYRI’PE JIHOI: O TERRITÓRIO COMO FUNDAMENTO DO SABER TRADICIONAL PARINTINTIN NA ALDEIA TRAÍRA DA TERRA INDÍGENA NOVE DE JANEIRO, HUMAITÁ - AM", Juliano teve como orientadores o prof. Dr. Nicolas Floriani (PPGEO-UEPG) e o Dr. Adnilson Ameida Silva (PPGEO-UNIR), recebendo distinção pela banca pelos seus trabalho.






A banca de defesa foi composta pelos ilustres professores  Almir Nabozny (PPGEO-UEPG), Ancelmo Schörner (PPGH-UNICENTRO), Antonio Marcio Haliski (IFPR=Paranaguá) e Lucia Helena Oliveira Cunha (MADE-UFPR).


A vivência com os Parintintin da aldeia Traíra

As primeiras impressões dos Parintintin da aldeia Traíra realmente fazem valer o ditado: “Jamais julgue um livro pela capa, você poderá perder uma história incrível”. Felizmente não realizamos julgamentos, apenas conjecturas que quando negativas não se concretizaram, e, portanto, não perdemos a história, por isso o presente relato e na oportunidade lembramos de uma citação ora a Helen Keller, ora a Charles Chaplin, ora de autor desconhecido, e representa bem o que sentimos e vivemos com o povo Parintintin:

As melhores e as mais lindas coisas do mundo não se podem ver nem tocar. Elas devem ser sentidas com o coração [...]. Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.

Nossa vivência e contato diário com os Parintintin ao longo de quase seis meses possibilitou mitigar as diferenças culturais e estabelecer laços de confiança, a partir de respeito mútuo, observações constantes e participação em algumas atividades diárias, como excursões a floresta, trabalho agrícola, mas em especial dos acontecimentos dentro da Aldeia como os rituais, festas e demais situações.
Para nós, a convivência com os Parintintin foi não somente uma experiência de pesquisa, mas também de vida. A calma no saber-fazer de suas práticas diárias na Aldeia ou mesmo as excursões/expedições à floresta fizeram com que entendêssemos o modo de vida indígena, como também influenciaram nos momentos que juntos passamos: a calma e a tranquilidade proporcionada naquele ambiente contagiam, envolvem e nos colocam a viver num ritmo parecido ao que o povo empreende no cotidiano.




Foi uma vasta aprendizagem e uma grande oportunidade de conhecer um povo tão acolhedor e simpático como os Parintintin. Portanto, acreditamos que essa vivência não sairá da memória, nem o que aprendemos com eles e sobre eles em sua relação de mundo. Levaremos um pouco de sua sabedoria, de seu modo de viver e de sua amizade e reciprocidade, tanto para a vida profissional como pessoal, pois naquele ambiente aprendemos e encontramos a humanidade, a qual é tão distante nos dias atuais em nossa sociedade regulada pela instantaneidade e pela monetização, inclusive dos valores fundamentais – no caso, a vida.

o Recém doutor Juliano Strachulski dedica seu trabalho  "a todo o povo Parintintin, aqueles que estão vivos e aqueles com quem tivemos o prazer de conviver, mas que já partiram para outro plano do cosmos, pela sua hospitalidade, aceitação, paciência e por confiarem em nós e permitirem que com eles pudéssemos caminhar na floresta. Agradeço aos meus orientadores, Prof. Dr. Nicolas Floriani e Prof. Dr. Adnilson de Almeida Silva, por terem me orientado nesta tese. Ao Nicolas pela longa jornada de mais de nove anos que percorremos juntos até a defesa da tese. Ao Adnilson e também Rogério Vargas Motta por terem me apresentado ao povo Parintintin. Também agradeço a todas as instituições e pessoas que colaboraram de alguma forma para a realização deste trabalho".

Acerca da TESE

Os povos indígenas vêm desenvolvendo seus saberes tradicionais e construindo uma relação transcendental com o território e natureza local, inerentes não somente a elementos práticos, materiais, mas também simbólicos, espirituais. 
A Geografia acaba despertando o interesse pelos povos indígenas, por seus conhecimentos tradicionais, que versam sobre as formas de viver no mundo (relação com o território e territorialidades), o savoir-faire (práticas e habilidades), e tratam do mundo em que se vive (cosmogonia e cosmologia). Em especial, a Geografia Cultural entende como elementar, a tradução da complexidade local não de forma a simplificá-la, mas com vistas a tornar tal complexidade mais inteligível aos olhos da ciência, a partir de referenciais como o território, territorialidades geossímbolos, identidade e suas implicações socioculturais e ambientais. 
Acerca do exposto, o objetivo norteador da tese foi compreender a importância do território para a existência dos saberes tradicionais Parintintin na aldeia Traíra da Terra Indígena Nove de Janeiro, Humaitá - AM. Na vivência com os atores sociais, observou-se que no contato e convivência com a sociedade não indígena os saberes e costumes tradicionais proporcionaram uma relativa resistência à cultura externa, sendo que seu sistema cultural se adaptou, internalizando novas práticas materiais e imateriais híbridas. 
Portanto, a relação com o território e o manejo da floresta, apesar de ter sofrido com influências externas, é guiada por um conhecimento tradicional, apoiado numa concepção de natureza menos utilitarista e exploratória do que aquela da sociedade envolvente. O território é visto como sua base material e simbólica, em que se assentam seus conhecimentos tradicionais, tem origem seus mitos, lendas e crenças, onde caçam, pescam, praticam a agricultura e manejam as espécies vegetais elementares a sua sobrevivência física e cultural e, em especial, local em que coevoluem com a natureza. 
Em relação à interpretação dos saberes indígenas acerca da vegetação, evidencia-se que identificam e classificam, em especial, aquelas espécies utilizadas para o tratamento da saúde, sabem a melhor forma de manipulá-las, e os ambientes em que elas se encontram, estando intimamente associados ao seu território. Por outro lado, sabem que devem respeitar as fases da lua, os seres da floresta (Curupira, Kagwyrajara Pirakwera’ğa) e suas crenças, em que situações determinadas plantas podem ser usadas para fins práticos (chás, xaropes, massagens, etc.) ou simbólicos (benzimentos, pintura corporal).  Não são somente saberes práticos, que atendem às suas necessidades primárias, mas também frutos de observações em termos estéticos, intelectuais e/ou espirituais. São transmitidos oralmente dos mais velhos para os mais jovens, porém igualmente adquiridos por sua curiosidade, por uma capacidade intelectual de associar a presença de certos elementos (naturais e culturais) a determinados territórios.