O Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão Interconexões, Dr. Nicolas Floriani apresentou, no mês de março de 2020, o Relatório de Resultados e Produtos do também coordenador do projeto de extensão do Programa Universidade Sem Fronteiras (edital SETI/USF, 2018) "Sistema participativo de certificação socioambiental da agrofloresta faxinalense: da diferenciação à qualificação dos produtos de comunidades rurais tradicionais do Paraná".
O referido projeto teve como finalidade dar prosseguimento aos resultados do projeto de extensão USF de 2016 "Selo socioambiental “produtos da agrofloresta faxinalense”: capacitação sociotécnica e empoderamento jurídico para a inclusão social e geração de renda em comunidades rurais faxinalenses do Paraná" que tem como objetivo promover a valorização da cultura de comunidades rurais tradicionais do centro-sul do Paraná por meio da criação de uma marca de origem geográfica dos produtos derivados dessas populações, de maneira a permitir gerar uma renda complementar em circuitos alternativos de comercialização.
A síntese do relatório do primeiro projeto USF de 2016 encontra-se no blog do GPInterconexões, no seguinte endereço . Destaca-se também que o projeto também possui um sítio eletrônico onde podem ser visualizadas algumas atividades desenvolvidas.
RELATÓRIO
- PRINCIPAIS INFORMAÇÕES -
No que tange à Ações desenvolvidas pelo Projeto, temos os seguintes detalhamentos pontuados a seguir:
- AÇÃO 1. ETNOGRAFIA DOS SABERES E PRÁTICAS TRADICIONAIS DA AGROBIODIVERCIDADE REGIONAL
Por meio da realização de diagnósticos rurais participativos das comunidades beneficiárias e da técnica da observação participante a equipe da universidade sem fronteiras, em colaboração com o Grupo de Pesquisa-Extensão Interconexões (UEPG) foi possível realizar: mapeamentos participativos dos recursos agroflorestais (floresta manejada, quintais agroflorestais e lavouras faxinalenses) e principais produtos utilizados pelas comunidades faxinalenses de Sete Saltos de Baixo - Ponta Grossa e Marmeleiro de Baixo - Rebouças) e duas comunidades remanescentes de faxinais (CRF-Q): Sete Saltos de Cima - Ponta Grossa e do Palmital Dos Pretos - Campo Largo.
O diagnóstico permitiu a caracterização e sistematização das seguintes práticas socioterritoriais locais, tas como diagramas e calendários da organização social e econômica (estratégias de manejo e uso dos recursos florestais frente as capacidade produtivas); turnês guiadas (etnocaminhadas) e levantamentos etnobotânicos, traduzidos em:
- Inventário dos Saberes e Práticas de manejo da floresta comunitária, dos quintais agroflorestais e da lavoura (roça) nas comunidades beneficiárias;
- Inventário do Sistema de Organização Social e práticas de solidariedade: laços de compadrio com a existência de três modalidades de relações sociais: 1. de troca de dias de trabalho; 2. Troca de produtos; 3. mutirões de serviços.
- Identificação das principais lideranças comunitárias;
- Identificação de Redes de Atores Locais e Regionais Usuais e Potenciais;
AÇÃO 2. INCENTIVO À FORMAÇÃO DE REDES LOCAIS E AGENTES INTER-INSTITUCIONAIS
Esta ação possibilitou a formação de redes interinstitucionais de colaboração - entre Organizações Sociais, Agentes Públicos (Municipais e Estaduais) e Comunidades -, conectadas pelo Projeto.
Em escala Local, entre famílias de comunidades vizinhas beneficiarias, a inserção no projeto de acadêmicos do Interconexões (UEPG), doutorandos do PPGEO (UEPG), possibilitou a vinculação de seus respectivos projetos de pesquisa aos objetivos do Projeto USF, resultando em:
- Fortalecimento da Marca (Selo da Agrofloresta Faxinaleses) e de novos engajamentos de Estabelecimentos Familiares das CRF-Q de Sete Saltos de Cima e Palmital dos Pretos, tal Rede de Atores Locais em comunidades tradicionais familiares foi doravante denominada pelo Grupo de Pesquisa Interconexões como Rede Sapê: Saberes agroecológicos de permanência, do qual passou a colaborar o Centro de Educação e Treinamento em Agroecologia (CETA);
- Incentivo à criação de Redes de Trocas de Saberes e Sementes Crioulas e Criação de um Banco de Sementes no CETA, por meio do incentivo à reinserção de produtos da Agrobiodiversidade Regional (sementes crioulas de lavouras temporárias - roças de toco) e plantas herbáceas medicinais de quintais e hortas;
- Implantação de Novos Sistemas Agroflorestais em onze estabelecimentos familiares em duas comunidades tradicionais (CRF Sete Saltos de Cima e CRFeQ Palmital dos Pretos). Tal ação deriva de uma cooperação entre Projetos de Pesquisa (Edital Universal CNPq, 2017) e o Projeto USF, a aparte da qual pôde-se incentivar a articulação com o CETA para o estabelecimento de uma unidade agroecológica de referência na região.
Em escala Regional, ligando comunidades locais, agentes públicos e organizações sociais destacam-se as seguintes redes fluidas de cooperações incentivadas pelo Projeto:
- Entre Organizações Sociais e Comunidades Tradicionais: Casa Latino-americana (CASLA); a Associação Solidária de Agroecologia de Ponta Grossa (ASAECO) e as comunidades beneficiárias; O Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA); a ASPTA e as comunidades beneficiárias deste Projeto.
- A CASLA, por meio de seu Projeto de “Unitinerante: Universidade ItInerante pelos Direitos Humanos, da Natureza, pela Paz e Bem Viver”,em cooperação com a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI), permitiu potencializar a articulação e engajamento das comunidades tradicionais mencionadas entre as Instituições de Ensino Superior do Estado, comunidades, agentes públicos municipais e estaduais, dando maior visibilidade, legitimando e fortalecendo as cooperações estabelecidas. A inserção das comunidades beneficiárias deste Projeto USF na Rede UNitinerante, possibilitou uma forte cooperação entre a Secretaria de Agricultura do Município de Rebouças (SAMR) e as comunidades beneficiárias (Salto e Marmeleiro de Baixo), o que resultou em promoção de oficinas de capacitação técnica em processamento de alimentos da agrofloresta faxinalense no Centro de Distribuição e Beneficiamento de Alimentos da Prefeitura de Rebouças. Não obstante, em que pese algumas reuniões estabelecias desde a primeira edição do projeto em (2017 e 2018) e uma reunião em setembro de 2019, no âmbito do Projeto Unitinerante (CASLA-SETI), em Itaiacoca, evidencia-se ainda uma fraca e inexpressiva cooperação entre a Secretaria de Agricultura de Ponta Grossa (SAMPG) e comunidades;
- A ASAECO, por sua vez, promoveu a articulação das lideranças comunitárias locais com a UEPG, promovendo feiras locais de trocas de saberes e produtos no CETA.
- A ASPTA teve destacada importância na promoção de feiras regionais, onde foi possível apresentar estandes dos produtos da Agrofloresta Faxinalense e divulgar a marca.
1.2 CARTILHA SOBRE OS MODOS DE PRODUZIR E HABITAR DAS COMUNIDADES BENEFICIÁRIAS FAXINALENSES E REMANESCENTES DE FAXINAL
- Esta ação envolveu a participação dos colaboradores doutorandos do Grupo de Pesquisa Interconexões (UEPG), que aplicaram seus conhecimentos a fim de descrever e sistematizar informações relativas ao modo de vida (habitar e produzir) com o território.
- Especificamente, dos trabalhos conjuntos da equipe formada por uma pós-doutoranda e dois doutorandos do Interconexões, somados aos esforços dos técnicos do projeto USF foi possível coordenar o trabalho de cunho etnográfico , que possibilitou a elaboração do diagnósticos rurais participativos das comunidades beneficiárias, incluindo: mapeamentos participativos dos recursos agroflorestais (capoeirão manejado, quintais agroflorestais e lavouras faxinalenses) de três comunidades rurais: duas comunidades faxinalenses (Sete Saltos de Baixo e Marmeleiro de Baixo) e duas comunidades remanescentes de faxinais (CRF): Sete Saltos de Cima e Palmital dos Pretos, na região serrana de Itaiacoca, município de Ponta Grossa e no Município de Rebouças, Paraná.
- A produção de cartilha sobre patrimônio material e imaterial dos modos de produzir habitar e habitar, visando a formação de organizações de controle social. a cartilha sistematiza informações sistematizadas em diagramas e calendários da organização social e econômica (estratégias de manejo e uso dos recursos florestais frente as capacidade produtivas); principais produtos agrossilvipecuários e receitas de alimentos das famílias; levantamentos etnobotânicos na agrofloresta do criadouro comunitário e dos capoeiras manejados;
1.3 ESTÍMULO À IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS AGROECOLÓGICOS (SAFS) E RESGATE DA AGROBIODIVERSIDADE REGIONAL.
- O projeto USF, em parceria com o projeto “Das Territorialidades Tradicionais às Territorializações da Agroecologia: Saberes, Práticas e Políticas de Natureza em Comunidades Rurais Tradicionais do Paraná” (Edital CNPq Universal, 2017), com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Centro de Educação e Treinamento em Agroecologia (CETA)- promoveu a implantação de SAFs de base ecológica em onze estabelecimentos familiares da região de Itaiacoca (localizada entre os município de Ponta Grossa e Campo Lago). Para tanto, esta ação incluiu as atividades de plantio de mudas de árvores nativas e de sementes crioulas de culturas de lavoura temporária em glebas de estabelecimentos familiares. Esta ação também possibilitou a formação de um Banco de Sementes da Agrobiodiversidade Regional e a construção da Estufa para produção de mudas de árvores nativas e reprodução de sementes de cultivos temporários.
1.4 ESTÍMULO À CRIAÇÃO DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS DE COMERCIALIZAÇÃO: PARTICIPAÇÃO EM FEIRAS E EVENTOS REGIONAIS;
Esta Ação resultou de cooperações entre entre Organizações Sociais e Comunidades Tradicionais para a divulgação da marca em feiras, oficinas de capacitação e eventos acadêmicos. Estiveram envolvidos nessa parceria as seguintes organização sociais regionais: Casa Latino-americana (CASLA); a Associação Solidária de Agroecologia de Ponta Grossa (ASAECO) e as comunidades beneficiárias; O Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA); a ASPTA e as comunidades beneficiárias deste Projeto.
1.5 ELENCO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DA AGROFLORESTA E POSSÍVEIS TECNOLOGIAS DE PROCESSAMENTO DOS PRODUTOS AGROFLORESTAIS ECOLÓGICOS E OFICINAS DE CAPACITAÇÃO SOCIOTÉCNICA EM BENEFICIAMENTO DE ALIMENTOS PROVINDOS AGROFLORESTA FAXINALENSE;
1.6 BENEFÍCIOS IDENTIFICADOS NO PERÍODO
1.7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Em termos teóricos, o projeto de extensão permitiu a produção laços interconectados e dependentes de cooperação - Redes - entre atores sociais (comunidades, academia, agentes públicos, e organizações sociais). Tais redes organizadas de relações sociais podem ser consideradas como sistemas socioespaciais complexos produtores de emergências - qualidades, de acordo com as diferentes tipos de racionalidades (mais econômica e/ou mais substantiva), graus de interação (fraca à intensa), em diferentes escalas de atuação (local à regional), promovendo e gerando ações capazes de permitir a reprodução social e cultural de coletividades e instituições envolvidas na Rede, isto é, capitais socioterritoriais capazes de projetar e produzir esforços para gerar novas realidades e propriedades emergentes (ex. Novos Arranjos Institucionais): fala-se em desenvolvimento do sistema complexo e seus componentes respeitando-se os princípios do metaequilíbrio, evitando-se com isso a entropia do sistema quando da sobreposição ou dominação de um dos seus atributos (qualidades).
Nesse sentido, a importância do Projeto USF Selo Faxinalense residiu no incentivo ao desenvolvimento das seguintes ações, traduzidas em termos de produtos e processos sociais:
- Criação de Redes de cooperação entre atores sociais regionais;
- Incentivo e Fortalecimento ao Protagonismo comunitário;
- Capacitação Técnica das Famílias Beneficiárias;
- Incentivo à Reprodução da Agrobiodiversidade Local;
- Sistematização de Informações sobre os Saberes, Práticas e Produtos Patrimoniais Locais.
No que tange à viabilização de Novos Arranjos Institucionais (emergências) destacam-se as seguintes iniciativas produzidas pela criação de redes de cooperação entre atores sociais regionais que permitiu o acesso das comunidades a outros projetos (acadêmico-extensionistas) e políticas públicas iniciais de incentivo à comercialização:
- A inclusão das comunidades beneficiárias no Programa Extensionista UNitinerante (CASLA-SETI, 2019) que permitiu a ampliação das interações positivas entre as comunidades beneficiárias e o e atores sociais regionais. Em reunião da comissão acadêmica do Parlamento Unitinerante de Irati, no dia 12 de novembro de 2019, o Parlamento Unitinerante, representado pela Preferitura Municipal de Irati, do Programa, o Potgrmaa de Pós-graduação em Desenvolvimento Comunitário (UNicentro-Irati), A Casa Latino-ameriana, o Programa de Meo Ambiente e Desenvovliemto (MADE-UFPR) o Grupo de Pesquisa Interconexões (UEPG), traçaram estartégias conjuntas para, a partir da chamada pública da SRTI, viabilizar projetos conjuntos de desenvolvimento do Selo Faxinalensse, dando continuidade ao projeto mas atuais comunidades beneficiárias pela Programa USF, ampliando sua abrangência para o Faxinal dos Betim (Município e Imbaú (faxinal dos Betim).
- diálogo com Poder Público Municipal (prefeituras de Ponta Grossa e Rebouças) para o acesso a circuitos de comercialização em Feiras nas sedes urbanas dos municípios. Destaca-se que em houve interação efetiva como a Secretaria de Agricultura de Rebouças (disponibilização de transporte e local para realização de ofcinas e custeio para utilização de estande em feira regional) , ao passo que a Secretaria de Agricultura de Ponta Grossa a interação possibilitou iniciar o processo de negociação para a inclusão dos produtos faxinasses na feira de agricultores orgânicos da cidade.
- O diálogo com outras Instituições de Ensino Superior (UNICENTRO-Irati e IFPR-Irati) para o acesso futuro à ações de capacitação técnica em agroecologia e a circuitos de comercialização.
- O diálogo com outras Organizações Sociais regionais (Instituto Equipe de Educadores Populares de Irati e Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa - ASPTA) que possibilitou o acesso a circuitos alternativos de comercialização (Feira Regional de Trocas de Saberes e Sementes Crioulas);
Destaca-se ademais que o projeto possibilitou um salto qualitativo em termos de reconhecimento de sua importância junto ao movimento social faxinalense (Articulação Puxirão de Povos Faxinalenses): em reunião ordinária do Conselho Estadual de Povos Indígenas e Populações Tradicionais do Paraná (CIPCT) de 28 e 29 de novembro de 2019, o representante da APPF mostrou o reconhecimento e o interesse do movimento social em Projeto em conhecer o Projeto Selo da Agrofloresta FAxinalense. Contudo, o representante mostrou-se preocupado com a forma (protocolo) de consulta às associações comunitária, pois de acordo com o referido representante algumas comunidades não possuem convergência em termos de objetivos e princípio com o movimento social e o Projeto do Selo, uma vez consentido pela comunidade, poderia aumentar a tensão entre as comunidades e a direção do Movimento.
As iniciativas acima destacadas, foram responsáveis em seu conjunto pela promoção de novas lideranças comunitárias e a consolidação de redes de cooperação, possibilitando, por um lado, o acesso às instância formais promotoras de Políticas Públicas ligadas à extensão agroecológica e de acesso à circuitos alternativos de comercialização (Secretarias Municipais e Instituições e Ensino Superior).
Por outro lado e não obstante esses aspectos positivos e/ou negativos, a importância maior deste projeto residiu no incentivo à reprodução de práticas Agroflorestais (floresta, quintais e lavouras faxinalenses) e do modo de viver tradicionais em base à páricas educativas informais em agroecológia, como dispositivo promotor da qualidade dos alimentos faxinalenses, dado que no projeto anterior foram apontados problemas decorrentes da falta de capacitação técnica em beneficiamento de produtos e da falta de um sistema de garantia da qualidade do processo produtivo.
Portanto, enquanto projeto-piloto, esta iniciativa mostra e aponta para potencialidades na promoção de nichos mercadológicos que possam gerar renda (complementar ou integralmente) a partir da valorização de prática e saberes patrimoniais reproduzidos na região em base à construção participativa de práticas agroecológicas educativas, trazendo com isso possibilidades de desenvolvimento local em base e valores socialmente e culturalmente arraigados e ecologicamente sustentáveis.