Princípios

A abordagem complexa dos saberes locais, isto é, das compreensões e práticas distintas sobre o mundo natural , emerge do contexto de crise paradigmática da ciência moderna e da necessidade de abertura ao diálogo com outros saberes. Incluímos nessa categoria o patrimônio material e imaterial de coletividades que, desde seus territórios, buscam resistir e reafirmar suas identidades frente à modernização e racionalização de suas realidades . Parte-se, portanto, da necessidade de abertura ao diálogo com outros saberes; a abordagem complexa, nesses termos, deve possibilitar a compreensão do saberes locais sobre o mundo natural apoiando-se em na união de métodos e técnicas oriundos de outros ramos científicos (da psicologia, da antropologia, da sociologia, da linguística, da ecologia, da geografia, etc.) de forma a permitir a interpretação das narrativas (da ciência e dos sabres locais) acerca da subjetividades dos fenômenos espacial (o território da comunidade) e temporal (o tempo social e biológico) que configuram a sociobiodiversidade de territórios tradicionais e alternativos.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

PROJETO NEA Territórios Faxinalenses (Interconexões-CNPq) e Unitinerante realizam segundo Dia de Campo

 Foi realizado no sábado, 24 de outubro de 2020, o Segundo Dia de Campo do Núcleo de Estudos e Capacitação Sociotécnica em Agroecologia de Populações tradicionais em Territórios Faxinalenses (NEA Territórios FAxinalenses).


O encontro de troca de saberes e sementes foi realizado na Unidade de Referência Agroecológica de Antônio e Cida Ostrufka, localizado na comunidade de Sete Saltos de Cima, Distrito de Itaiacoca, no município paranaense Ponta Grossa. 


Presentes à reunião estavam os integrantes do Grupo de Pesquisa e Extensão Internconexões - Nicolas Floriani (UEPG), Cleusi Bobato Stadler (PPGG-UEPG),  Bruna Santos (PPGG-UEPG) - os agricultores agroecológicos da Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar de Ivaí (COODESAFI) - Antônio Silva, Genésio Walkzuki, José Eloir Scheidt, Natan E.Maizuk, Lucas Bilek, Dionei Santana, Antonio Silvestre Leite, Paulo Ricardo Leite e sua Presidente Claudia Regina dos Santos; os agricultores agroecológicos da Associação Solidária para Agroecologia de Ponta Grossa (ASAECO) - Antônio Ostrufka e Cida Ostrufka, e o engenheiro agrônomo e professor do Colégio Agrícola de Palmeira, Odair de Oliveira, e Jairo Bufoliski da Prefeitura Municipal de Imbituva.



Participantes do Dia de Campo, cujo traslado foi possibilitado com o auxílio da Prefeitura Municipal de Imbituva, parceira do Projeto.


A primeira atividade do dia consistiu em realizar uma dinâmica de grupo em torno da Cartografia Participativa do Sistema Produtivo da Unidade de Referência Agroecológica, o que permitiu ao grupo entender o histórico de produção em cada parcela, as limitações da qualidade produtiva das terras, bem como um inventário da agrobiodiversidade local, da qual destacaram-se os adubos verdes de verão e de inverno e os microorganismos eficientes do ecossistema florestal.





Em destaque, produto da fermentação dos microorganismos eficientes da terra do capoeirão da U.R. Agroecológica.


A segunda atividade consistiu na turnê guiada às parcelas do estabelecimento agrícola, onde foram realizadas observações das propriedades físicas, morfológicas e biológicas das terras cultivadas  conforme manejo agroecológico.





Observações dos atributos biofísicos e morfológicos das terras da UR Agroecológica de Sete Saltos de Cima - NEA Territórios Faxinalenese. Exposição do Eng. Agrônomo Odair de Oliveira



Após o almoço agroecológico, o grupo reuniu-se sob o teto do Galpão de Estudos e Treinamento em Agroecologia da U.R., onde os agricultores deram as notas aos solos observados, de acordo com os parâmetros considerados na prática anterior.



Dois assuntos importantes também foram discutidos no Galpão: a dependência às tecnologias de produção agroindustrial e a criação de circuitos alternativos de comercialização.




No que tange à questão da busca pela autonomia em relação às tecnologia e ao mercado, enfatizou-se a necessidade premente de se fortalecer parcerias em rede para trocas solidárias de sementes crioulas e de adubos verdes. 


No tocante à questão das sementes crioulas, destacou-se a parceria com a ASP-TA e Coletivo Triunfo com o NEA Territórios Faxinalenses (NEA - TF) , quando da iniciativa de doar sementes crioulas de milho, feijão e de algumas hortaliças. 


A doutoranda Cleusi Bobato Stadler (PPGEO-UEPG), pertencente à Rede de Guardiões de Sementes do referido Coletivo, enfatizou a necessidade de trocas e reprodução dessas tecnologias sociais entre os agricultores no sentido de estruturar o Banco de Sementes Crioulas da Rede criada pelos atores integrantes do NEA-TF.




Igualmente importante foi a intervenção da Presidente da COODESAFI, Claudia Regina dos Santos, que destacou a necessidade de dar publicidade ao projeto e aos seus parceiros institucionais para que juntos possam demandar de legisladores municipais e estaduais ações concretas de desenvolvimento rural ligados à promoção de políticas publicas includentes da agricultura familiar. 


A presidente da COODESAFI cita, especificamente, a questão da apropriação da lei estadual que determina a obrigatoriedade da utilização de alimentação orgânica para merenda escolar de escolas públicas do Paraná, bem como outros mecanismos de incentivo à produção orgânica a partir de políticas de subsídio à produção e comercialização.


Nesse desafio, cabe à rede de atores agroecológicos pressionar os agentes políticos locais e regionais para garantirem a inclusão de grupos de agricultores familiares em transição à agroecologia nesse conjunto de  políticas públicas, sob a pena de que estas sejam controladas pelos grandes empresários da área do agronegócio que têm se apropriado de tecnologias agroecológicas (e orgânicas) de produção para fins exclusivamente comerciais.


É uma realidade que o mercado tem se apropriado dessas tecnologias, seja produzindo insumos ou alimentos. No entanto, defendemos a ideia de que a agroecologia deve ultrapassar uma racionalidade estritamente econômica, abrindo-se às especificidades culturais, ecológicas e sociais de cada território, de onde emergem - de baixo para cima e conjuntamente com diversos atores regionais -  projetos alternativos ao desenvolvimento rural.



Para finalizar o Dia de Campo, foram expostos os equipamentos e mudas de erva-mate comprados pelo Projeto NEA Territórios Faxinalenses com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e cedidos à UR Agroecológica. 




Por Nicolas Floriani

27 de outubro de 2020