por Nicolas Floriani
A convite do Grupo de Pesquisa Interconexões e do Programa
de Pós-Graduação em Geografia, representantes de comunidade rural negra falam
de suas vidas e da conquista dos direitos territoriais aos estudantes de
graduação e pós-graduação de Geografia e História da UEPG, marcando, no dia 03
de junho de 2014, a Universidade (muito pouco permeável às outras
racionalidades) com as cores e as narrativas dos saberes e vivências das populações tradicionais.
Mulher, Negra e Agricultora, a líder da Comunidade Rural de
Palmital dos Pretos, Elenita Machado Lima e sua irmã caçula Elizabete Machado, falaram nas instalações do Hall
Tecnológico da UEPG, aos estudantes e professores de sua história de vida e das
dificuldades vivenciadas pelos descendentes de ex-escravos fugidos das grandes
fazendas da Região dos Campos Gerais e Primeiro Planalto paranaenses, até a
formação da Comunidade Rural Negra de Palmital dos Pretos, localizada a 50 km
de Ponta Grossa e de Campo Largo, no Estado do Paraná, Brasil.
Ressaltando as dificuldades vividas pelas famílias no espaço
rural, a carência em serviços básicos como saúde, transporte e educação, a exploração do trabalho familiar e infantil na agricultura, o preconceito de alguns moradores vizinhos, Dona Elenita enfatiza as histórias de superação das desigualdades sociais de seu grupo. Destacou também a recente conquista da comunidade, em
2006, da categoria 'Remanescente de Quilombolas' junto ao poder público por meio da certificação do Grupo de Trabalho Clovis Moura.
Essa titulação marca a emergência de um novo sujeito de
direito, que possui um modo de vida e organização socioterritorial ancorados em
leis e valores consuetudinários que questionam e desafiam o modelo jurídico convencional, que fundamentado na ordem do privado e do indivíduo , reforça a exclusão e a homogeneização das diversidades culturais.
Contrariamente a essa racionalidade hegemônica, a história da
relação da comunidade quilombola com as outras comunidades vizinhas e com a
natureza (as florestas e águas de seus território) ancora-se em um modo de vida
pautado pela solidariedade e pela coletividade. Em que pese os conflitos e
perdas, a comunidade rural negra faz questão de pertencer à região, colaborando
para a construção de uma identidade tradicional da qual outras comunidades
rurais compartilham um modo de vida e visão de mundo específicos (uma
territorialidade tradicional) e projetos coletivos.
Na configuração histórica dessa territorialidade aparece,
conforme apontou Dona Elenita, a medicina popular como amálgama identitário
reproduzido pelas benzedeiras, detentora de poderes que ligam o sobrenatural
(os rituais religiosos do catolicismo rústico) ao natural (a biodiversidade) e estes ao sociocultural.
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